Entrevista com Hannah Dodd: O que torna todos iguais
Uma mulher resiliente, um talento versátil, uma atriz diligente: Hannah Dodd tem o holofote apontado para ela nesta temporada tão cinematográfica.
Apenas para nomear alguns: ela está entrando na ilustre família Bridgerton na próxima temporada da série como Francesca, a mais quieta e introvertida irmã no caos da família mais amada dos últimos tempos; Ela estrela, ao lado de Henry Cavill e Millie Bobbie Brown, no segundo capítulo de de “Enola Holmes” como Lady Cicely, uma representação honrosa da mulher inglesa no século 19 em tantos aspectos; ela mergulha nos anos 90 interpretando a jovem Sophie Whitehouse em “Anatomy of a Scandal”, persistindo apesar de suas tarefas desafiadoras na série.
Nós conversamos com Hannah sobre os elementos mais exigentes e emocionantes de suas atuações, com um olhar atento no impacto histórico e psicológico de ambos os personagens e as narrativas da vida real, e quais filmes continuam ensinando ela sobre a sociedade e ela mesma: como ela reagiria em algumas situações, como ela encararia elas e que tipo de pessoa ela realmente é. E tudo começa com uma pergunta chave que ela faz sobre o papel a ser interpretado: “quem é ela?”. Mas também, “quem eu sou?”
Qual foi a sua primeira memória do cinema?
Ah meu deus, acho que foi quando meus pais me levaram para ver “Toy Story”. Mas a minha memória de cinema mais antiga é, na verdade, uma bem engraçada: você conhece o filme “Era do Gelo”? Foi na minha festa de aniversário de 8 anos, eu acho, e nós pegamos os assentos da frente, colocamos todos os nossos doces para fora e todos os meus amigos e eu, que estávamos assistindo o filme, fomos mudados de lugar depois. Essa provavelmente é a minha memória de cinema mais antiga. Eu gostaria que fosse mais romântica, mas não! [ela ri]
Você agora entrou oficialmente para a família Bridgerton: qual foi sua primeira reação quando conseguiu o papel, e qual foi a primeira pergunta que você fez ao diretor e a você mesma?
Eu não fazia ideia de onde estava me metendo com essa personagem. Eu amei a série, assisti a série toda, mas nunca tinha lido os livros, então a primeira coisa que fiz foi comprar o livro dela (Francesca) porque eu precisava entender quem eu estaria interpretando. Imagino que todas as outras questões que tive foram bem específicas, e talvez eu dê spoilers que me meteriam em muitos problemas [risadas]. Acho que eu apenas me perguntei “quem é ela?” e eu fui direto ao livro para encontrar algumas respostas.
Sua personagem é Francesca Bridgerton. Nós vamos ver mais dela dentro das histórias de seus irmãos na temporada visto que, até agora, não temos visto muito?
É muito legal trabalhar em um personagem que vem de uma série de livros, pois é tão amável ter esse texto para apenas mergulhar; você também tem o script, então tem o dobro de informação que normalmente teria. Muito da minha preparação vem dos livros. Sobre a série, Francesca toca piano, então eu logo entrei para aulas de piano, e nós também temos aulas de etiqueta e dialeto.
Para mim, foi trabalhar com pessoas diferentes que eu possa me conectar, me inspirar e colocar em sua caracterização.
Quando você está se preparando para se tornar um personagem, você gosta de ser mais racional ou emocional? Se eu penso em “Anatomy of a Scandal”, por exemplo, sua personagem é bem específica, ela é fria mas, ao mesmo tempo, visivelmente se transforma…
Isso pode variar dependendo do personagem, acredito que o personagem meio de dita a preparação que você faz. Eu amo me preparar, realmente aprecio o lado da pesquisa, acho que é uma parte bem divertida do trabalho. Todo personagem te ensina algo novo, seja um período que você tem que estudar, um acento que precisa aprender ou uma habilidade como andar a cavalo ou dançar, eu amo esse elemento do trabalho.
Em “Anatomy of a Scandal” em particular, eu estava interpretando uma versão mais nova de um outro personagem, precisava tentar entender quem ela era em relação ao trabalho de outra pessoa também, então foi um estilo de preparação interessante, assim como ser compatível, vocalmente e fisicamente, com outra pessoa e coisas assim. Aqui, eu foquei principalmente na cultura dos anos 90, como seria ir para a Universidade de Oxford durante esse tempo, o que estariam fazendo para se divertirem, que música estariam ouvindo, a moda, as questões políticas que estavam acontecendo no momento.
Talvez eu esteja errada, mas acho que sendo uma atriz e interpretando diferentes papeis todas as vezes, você pode aprender muitas coisas novas, como você disse, e talvez até sobre si mesma. Qual foi a última coisa que aprendeu sobre você mesma?
Essa é uma pergunta muito boa!
Filmes te ensinam muito, então você aprende sobre si mesma e como você abordaria certas situações porque você precisa interpretar como outra pessoa reagiria nessa situação, e dependendo da personagem, seja ela próxima de quem você é como pessoa ou não, você precisa ressoar isso ou pode pensar “isso é muito bizarro, porque estou fazendo isso?”, mas faz sentido para o personagem. Então, acredito que as vezes você aprende como reagiria em certas situações, mesmo que seja o oposto do que esteja fazendo, você saberia por que se sentiria de certo modo sobre uma certa situação.
Acredito que todos tenham diferentes experiências na vida, e quando você começa a interpretar diferentes personagens e criar histórias alternativas, você percebe como elas são diferentes de si mesma, mas também as coisas que tornam todos iguais.
Como você descreveria Francesca, também comparada a seus outros irmãos?
Ela é uma pessoa introvertida e eu acho, sem entregar muito, que os outros irmãos estão muito felizes em grandes ambientes e prosperam nos mesmos, sabem quem eles são e se nutrem-se uns dos outros.
Acredito que Francesca tem tudo disso, mas prefere seu eu individual, seus grupos pequenos. Ela realmente pensa muito e passa muito tempo com seus próprios pensamentos. Acredito que onde eles se sentem felizes brincando e competindo, ela se sente feliz observando – ela não sente a necessidade de competir por atenção. As pequenas coisas a deixam contente – Ela se sente feliz lendo um livro dentro de casa, tocando música, fazendo as pequenas coisas da vida, o que eu acredito que seja uma qualidade maravilhosa de se ter.
Você tem um irmão Bridgerton favorito?
Acredito que o fato de todos serem tão diferentes é uma coisa incrível nos livros e na série, e eles todos são personagens desenvolvidos de modo que todos tem algo bem individual. Eu, como fã da série, era obcecada pela Eloise, e eu estou obcecada por Claudia Jessie, que interpreta Eloise; eu diria que ela é minha favorita.
Sim, ela também é minha favorita!
Todo mundo a ama! E Claudia é uma pessoa incrível também.
Você também está no elenco do segundo capítulo de “Enola Holmes”. Como foi a experiência?
A experiência foi muito divertida, eu sempre fui uma fã massiva de Harry [Bradbeer] por muito tempo, então poder o conhecer na audição foi uma conquista, assim como trabalhar com ele. A história é tão boa e eu amei aprender sobre ela, sou muito grata por esse trabalho. Não sou muito boa em me assistir, mas esse eu realmente queria assistir por todos: o elenco é incrível! Eu realmente não entendendo como estou nele!
Quais foram os elementos mais desafiadores e excitantes da sua personagem?
Eu AMARIA descrever por inteiro todo o meu amor por essa personagem, mas devido a spoilers tenho que manter em segredo. Tem tanto que gostaria de dizer! A parte mais excitante definitivamente foi descobrir um grupo real de mulheres e seu verdadeiro impacto. Tem tantos elementos nesse personagem que foram tão únicos e divertidos de interpretar como uma atriz. Foi definitivamente meu papel favorito. Mas, infelizmente, isso é provavelmente tudo que posso dizer!
Você estava familiarizada com o período histórico em que o filme se encontra? O que você aprendeu e quais realizações você teve ao mergulhar em uma era tão distante de nossos tempos atuais em tantos pontos de vista? (Eu não acredito que esteja tão distante de nossos tempos atuais…)
Eu não estava! Mas eu absolutamente amei aprender sobre uma peça tão importante da história e poder ser uma pequena parte para destacar a coragem e força dessas mulheres reais. Nós percorremos um longo caminho em tantas maneiras, sim, mas a realidade é que as mulheres ainda estão lutando por direitos iguais e respeito dentro do ambiente profissional até agora. Então, não estamos distantes o suficiente. É insano para mim que um acontecimento histórico tão grande, liderado por mulheres, não é de conhecimento geral. Me faz questionar quais outros acontecimentos históricos nós deixamos serem esquecidos apenas por serem guiados por mulheres.
Nessa nota, eu gostaria de destacar a instituição de caridade que tem trabalhado incansavelmente para tornar essas mulheres reconhecidas por anos: https://www.matchgirls1888.org/sarah-chapman
A credibilidade de uma mulher como uma detetive profissional é um tópico fortemente discutido no filme, mas ainda tratado com uma abordagem irônica, o que pode ser mais efetivo: o que você acha de usar a ironia para abordar temas tão importantes? E quais dinâmicas dos dias modernos isso visa refletir? E como você acha que o cinema pode ajudar na luta de discrepâncias sociais no geral?
Eu acredito que adicionar um elemento do modernismo ajuda a destacar o quão longe já fomos e quanto ainda falta progredir. Isso talvez torne esses tempos mais relacionáveis e humanos para a atual audiência. É acessível e entretém todas as idades e, com uma plataforma como a Netflix, isso entra em tantas casas e, portanto, educa muito mais pessoas. Acredito que a ironia e a comédia são mecanismos de enfrentamento para muitas pessoas. Nos permitir rir das coisas pode, às vezes, nos levar à vulnerabilidade e verdade que nos pega desprevenidos. Acredito que Henry [Cavill] e Millie [Bobby Brown] brincam com isso de forma muito bonita.
Sobre a credibilidade das mulheres, eu poderia falar por dias. O filme explorou isso de tantas maneiras com narrativa e personagens femininos complexos, mas também fora da câmera. Nós tivemos tantas mulheres no set em todos os departamentos e também como HOD’s. Foi uma celebração do talento feminino do começo ao fim.
Como você descreveria “Enola Holmes 2” em uma palavra?
Misterioso!
Ambos “Bridgerton” e “Enola Holmes” são obras de época mas com um toque moderno; isso poderia ser um novo padrão para o drama de época alcançar uma audiência ainda mais ampla?
Sim, eu acho que sim! Algumas pessoas amam histórias de época, mas outras acham difícil se conectarem com elas. Existe uma maneira para alcançar todo mundo, seja com moda, cenografia, linguagem ou música, realmente pode melhorar. Eu realmente gostei disso, é muito cativante.
Se você pudesse escolher uma pessoa da vida real para interpretar, quem seria?
Eu estou obcecada por filmes de Hollywood à moda antiga, como musicais no estino Busby Berkeley, Ginger Rogers, Rita Hayworth, “Cantando na chuva” de Debbie Reynold; não espero que alguém recrie esses filmes pois são perfeitos do jeito que são, mas se fizerem, eu gostaria de ser essa pessoa [risadas].
Eu treinei como uma dançarina originalmente e estava meio que indo para o teatro musical; eu amo filmes, e um dia ter a oportunidade de fazer teatro musical em um filme, talvez, seria um absoluto sonho.
Aliás, você começou como uma modelo. Qual é a sua relação com a moda? Que papel isso tem em sua vida?
Eu amo moda e sou realmente grata por isso ter sido parte do meu crescimento.
É engraçado que, quando as pessoas falam sobre modelar, parece uma parte completamente diferente da minha vida porque nunca foi o plano, isso foi literalmente um modo de ganhar algum dinheiro para uma carreira que era só um trabalho de meio período para mim, eu apenas precisava disso para ir para a faculdade.
No entanto, eu amo fotografar ensaios como esse que fizemos, amo provar roupas, amo a parte de me vestir e ajudar com a absorção de qual história podemos contar com esse tipo de coisa. Mas dançar, me movimentar e a caracterização realmente ajudaram, e eu acho que é apenas a disciplina: dançarinos são construídos de modo diferente; obviamente, eu nunca fiz isso, mas a dedicação e o tempo que dançarinos colocam é algo que eu admiro. Acho que eu tenho um pouco dessa direção, mas a única coisa é que você nunca está feliz, você é treinado para olhar no espelho, criticar e trabalhar, você quer ver o que precisa melhorar então, como uma atriz, eu preciso aprender a estar disponível para me assistir e não apenas criticar e ver o que posso melhorar. Eu quero apenas pensar “Essa é a atuação!”.
Qual foi a última série que você maratonou?
Eu sei que estou atrasada, mas eu acabei de começar “Stranger Things”, estou atualmente na terceira temporada, mas obviamente vi tantos spoilers… Eu também maratonei “Dopesick”, é tão bom!
Tem algo que você precisa ter no set?
Eu uso perfume, o que está começando a se tornar algo comum porque tenho percebido que muitos atores fazem isso, mas tenho um perfume para cada um de meus personagens, então quando estou me preparando, escolho o aroma que acredito fazer sentido para eles, o que pode ser baseado em milhões de diferentes razões que fazem isso fazer sentido; durante a preparação, eu borrifo o perfume e me ajuda com minhas memórias quando estou praticando piano ou aprendendo algo; então, sou uma dessas pessoas que, se você borrifar algo, o cheiro me faz voltar em minhas memórias na mesma hora.
Seu melhor ato de rebeldia?
Meu deus, agora eu estou pensando “Eu nunca fiz nada de divertido em minha vida! [risadas].
Eu acho que é persistir: eu não tive dinheiro suficiente para frequentar uma escola de dança, então apenas fui e aprendi sozinha; não entrei, voltei no outro ano e tentei de novo; acho que eu nunca seria boa o suficiente para ser uma dançarina, então encontrei outro caminho como um jeito de trabalhar. Eu não sei, eu sinto que me rebelo constantemente, mas de um modo muito legal e seguro, tentando ser um caminho legal [risadas].
Qual é a música que você mais gosta de dançar?
Eu gosto de músicas aleatórias; no momento, por causa de “Stranger Things”, tudo o que escuto é música dos anos 80. Mas qualquer coisa que pareça legal e te leve para a pista de dança com seus amigos… Eu estou lá.
Qual é a coisa que mais te faz rir?
Eu dou risada muito fácil, dou risada de tudo e qualquer coisa, e acho tudo engraçado; pessoas que fazem outras pessoas darem risada são meu tipo favorito.
O que significa para você se sentir confortável em sua própria pele?
Especialmente agora, trabalhar em lugares diferentes e coisas desse tipo, é com as pessoas que realmente sabem quem eu sou – tenho um grupo incrível de amigas e minha família – quem me sinto confortável sendo quem quer que eu seja, não preciso pensar demais ou interpretar personagens.
Qual é o seu lugar feliz?
Minha mãe mora perto de Southwold, in Suffolk. Quando vou lá, me sinto tão calma… E meu cachorro está lá também!